O cérebro é um dos órgãos mais sensíveis ao excesso de inflamações pelo corpo e à queda da oxigenação. Um trabalho feito no Incor com 185 pessoas que contraíram o coronavírus mostrou que 80% manifestavam algum comprometimento cognitivo, como dificuldade de atenção e raciocínio, perda de memória e por aí vai.
Linamara vê esse o quadro em ao menos um terço dos sobreviventes que atende no Hospital das Clínicas da USP. De novo, a recomendação é procurar orientação.
“Se, depois da doença, você ficar com sonolência excessiva, deve passar por uma avaliação. O mesmo vale se ficar muito desatento, esquecendo as coisas ou trocando palavras”, aponta a neuropsicóloga Lívia Stocco Sanches Valentin, do Incor, autora do trabalho e criadora do MentalPlus, aplicativo que faz essa análise de maneira rápida e promove a reabilitação por meio de jogos.
O app já existia, mas está passando por uma repaginação para incluir um programa exclusivo para a síndrome pós-Covid, com o apoio da Organização Mundial de Saúde (OMS). Enquanto a solução tecnológica não chega, uma alternativa seria fazer o exame neuropsicológico, ou seja, uma bateria de questionários e testes físicos.
Tendo em vista que ele não é tão acessível (raros centros públicos oferecem e nem todo convênio cobre), é possível recorrer a táticas para treinar a mente em casa mesmo. “Ler, escrever, fazer palavras cruzadas e manter a prática de exercícios físicos ajudam bastante”, elenca Lívia. Hobbies repetitivos e detalhistas, na linha do crochê e do tricô, também treinam a concentração e colaboram para a melhora.
Fora o déficit nas funções executivas do cérebro, sintomas psiquiátricos estão sendo relatados numa frequência razoável entre quem pegou o coronavírus. Aquela revisão publicada na Nature aponta que, em geral, ao menos 30% dos acometidos podem sofrer com depressão e ansiedade. Outros trabalhos apontam até para o risco de estresse pós-traumático.
“Todo o quadro é acompanhado de um processo emocional intenso, que interfere na recuperação do paciente e, por isso, não deve ser menosprezado”, destaca Linamara.
Fonte: Saúde Abril (https://saude.abril.com.br/medicina/sindrome-pos-covid-como-detectar-e-tratar-os-sintomas-mais-persistentes/).