Persistência de sintomas após a infecção precisam ser avaliadas; descobertas podem contribuir para evitar complicações.
O aumento dos casos de Covid-19 longa, que é quando sequelas da doença permanecem mesmo depois do fim da infecção, abriu espaço para um novo tipo de serviço de medicina diagnóstica, o check-up pós-Covid. Alguns laboratórios de análises clínicas criaram pacotes de exames que prometem investigar as causas das sequelas e ajudar na prevenção de complicações.
Mas este tipo de check-up é indicado somente para quem permaneceu com algum sintoma da Covid-19 que traz piora da qualidade de vida. Pessoas que tiveram as formas moderadas e graves da doença também podem ser beneficiadas com a investigação, desde que mantenham um acompanhamento médico, afirma o infectologista Paulo Abrão, professor de Infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia.
“Não faz sentido todo mundo que teve Covid-19, que são milhões de pessoas, fazer um check-up, porque a saúde pública e privada não aguentam. Quem teve Covid-19 tem que ter uma autopercepção se a saúde voltou a ser como era antes ou não. Nestes casos, é importante uma avaliação”, diz Abrão.
Quem deve fazer
Para a infectologista Raquel Muarrek, da Rede D´Or, é importante quem teve Covid-19 fazer algum tipo de avaliação médica na permanência de sintomas sentidos durante a fase aguda da doença, e principalmente entre os que passaram por internação.
“O paciente que foi internado pode ter focos pulmonares ainda, alterações trombóticas que é realmente necessário fazer um segmento adequado. Já quem teve Covid-19 leve, sem acometimento de órgãos na fase aguda, deve fazer uma avaliação somente se tiver algo sequencial”, diz.
Segundo a infectologista, exames laboratoriais, como de sangue, ou de imagem, como um ecocardiograma, podem avaliar se houve alguma alteração no sistema imunológico após a Covid-19 ou alterações cardíacas, que têm se apresentado como sintomas da síndrome pós-Covid.
“O ideal é fazer uma consulta médica para avaliar se o paciente está com a imunidade estável ou se manteve os quadros infecciosos, alguém que peça e avalie os exames”, afirma.
Causa das sequelas
Algumas sequelas apresentadas após a Covid-19 podem não ser exatamente pela infecção pelo SARS-CoV-2, mas consequência do tempo de internação ou de outras doenças preexistentes, o que, na visão de Abrão, indica cautela sobre a necessidade do check-up.
“Quanto mais grave a infecção por Covid, maior a chance de sequelas, pelas consequências da internação em si, porque o paciente intubado fica a base de muitos fármacos. O vírus deve causar algo, mas boa parte das sequelas que vemos é porque o paciente ficou em estado grave, não dá para atribuir tudo ao pós-Covid”, alerta.
O infectologista explica que casos de internação longa por Covid-19 podem causar sequelas respiratórias, neurológicas e motoras.
As sequelas respiratórias pelo fato de o coronavírus inflamar os pulmões; as neurológicas pelo contato com o vírus, que aumenta o risco de derrames até problemas cognitivos, como dificuldades de raciocínio e de memória, de concentração ou insônia, além de mudança de humor e alterações psiquiátricas que desencadeiam um estresse pós-traumático, depressão e síndrome do pânico.
Há outras sequelas que podem causar alterações no sistema nervoso periférico, que causam fadiga, dores musculares e nas articulações, explica Abrão.
Fonte: CNN Brasil (https://www.cnnbrasil.com.br/saude/check-up-pos-covid-quando-e-necessario-e-quem-deve-fazer-segundo-especialistas/)